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O Feminismo é uma bobagem?

Por Elza Galdino, Coordenadora de Comunicação do IASC

O Feminismo é uma bobagem?

Milhares de mulheres gritando palavras de ordem nas ruas do mundo. Estávamos na segunda metade da década de 1960. O movimento feminista contemporâneo surgiu nos Estados Unidos e se alastrou para diversos países industrializados entre 1968 e 1977. Tendo como reivindicação principal a “libertação” da mulher, acabou por confundir cabeças e corações e a espalhar temor entre conservadores que, bem se sabe, querem o mundo exatamente como está para manterem intactos seus privilégios.

Mas seria mesmo essa a primeira manifestação a favor da igualdade de direitos entre homens e mulheres?

Hipátia de Alexandria, neoplatonista grega e filósofa do Egito Romano, a primeira mulher documentada como sendo matemática, nasceu em 351/70 e morreu em 415. Foi chefe da escola platônica em Alexandria, também lecionou filosofia e astronomia. Evidentemente é um caso isolado, mas é – indubitavelmente – uma excelente prova de que mulheres diferenciadas existiram e conseguiram destaque por sua própria força moral e intelectual. Hipátia morreu assassinada por cristãos, acusada de exacerbar um conflito entre duas figuras proeminentes em Alexandria: o governador Orestes e o bispo Cirilo.

Adiantando o relógio do Tempo encontraremos a revolucionária Olímpia de Gouges (1748 – 1793) que em 1791 compôs, em resposta à Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã, proclamando que a mulher possuía direitos naturais idênticos aos dos homens e que, por essa razão, tinha o direito de participar, direta ou indiretamente, da formulação de leis e da política em geral. Esquecida por anos, a Declaração de Olímpia foi revivida após ser republicada em 1986 porBenoîte Groult, romancista francesa de grande atuação na causa feminista, morta em 2016, aos 96 anos.

Em célebre frase, Olímpia afirma que “A mulher tem o direito de subir ao cadafalso; ela deve igualmente ter o direito de subir à Tribuna.” Tinha conhecimentos sólidos, ideias libertárias para as quais usava meios amplos de divulgação como o teatro. Sua peça “As três urnas, ou a saudação da Pátria, por um viajante aéreo” propunha um plebiscito para escolher uma das três formas potenciais de governo: República indivisível, Governo federalista e Monarquia constitucional. Isto em 1793, mesmo ano em que morreu, guilhotinada. Em março de 2004 virou nome de praça – Place Olympe de Gouges –, em Paris.

Acelerando até o presente, uma notícia inusitada: em 2017 foram aceitas mais mulheres que homens para os cursos de graduação na Universidade de Oxford, após seus quase 1000 anos de existência. A pequena diferença (1070 x 1025) acendeu outra discussão: Oxford aumentou em 15 minutos a duração das provas de matemática e ciências sob o argumento de que as mulheres precisam mais tempo para solucionar as questões. Sem tal providência, qual seria o resultado? – perguntam os céticos. Apenas por curiosidade, lembro aqui que até 1974 existiam ali cursos exclusivamente masculinos (seja lá o que isto signifique)!

Já a realidade brasileira é um tanto desconhecida. Vejamos: uma em cada três propriedades rurais – atividade dita “de homem” – do país tem mulheres no comando (dados da Associação Brasileira de Marketing rural e Agronegócio). Mais: em 2016 2,4 milhões de mulheres passaram a exercer a função de “chefe de família” (expressão usada pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD), enquanto 985 mil homens perderam essa função. O que inferir desses dados, deixo a cada um.

De minha parte, a conclusão é simples: contribuintes são, cidadãs são. Merecem, portanto, tratamento igualitário. Mais que isto, devem decidir sobre os temas que lhes são diretamente afetos (aborto, violência sexual e doméstica, por ex.) e não serem obrigadas a aderir a regramentos que ignorem seus argumentos e opiniões.

Preâmbulo da Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã

Preâmbulo da Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã, 1791

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