Santo Ivo: sacerdote amigo dos pobres e padroeiro dos juristas –
Por Padre Philippe Roche.
A Associação Fraterna dos Amigos de Santo Ivo (AFASI) foi fundada quatro anos atrás, em Florianópolis, com três objetivos principais.
- Oferecer uma reflexão sobre problemas jurídicos sérios, afim de esclarecer ambos à opinião pública e aos lideres políticos e sociais, através de publicações de artigos, frutos da reflexão de um grupo de estudos, para divulgar e enriquecer a visão cristã sobre os problemas da sociedade contemporânea.
- Desenvolver, entre os litigantes, o espírito de conciliação, tão precioso para santo Ivo. Desde sua criação, os juristas da associação já resolveram vários casos dolorosos, evitando complicações jurídicas entre os litigantes; a associação pensa ser muito interessante e útil organizar uma formação para a mediação em parceria com a OAB e o IASC, afim de poder estabelecer um plantão de aconselhamento e mediação.
- Proporcionar uma primeira ajuda para aqueles que pensam sofrer injustiça, especialmente os mais necessitados.
Na organização do terceiro colóquio Santo Ivo, em Florianópolis, no dia 16 de maio de 19, a Associação Fraterna dos Amigos de Santo Ivo teve a grande satisfação de receber o apoio eficaz de vários preciosos parceiros: o Instituto dos Advogados de Santa Catarina (IASC), o Instituto Brasileiro do Direito da Família (IBDFAM), a Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul), a ACALEJ, a ESA, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a CAASC. Eles devem saber que a AFASI lhes guarda uma profunda gratidão.
Além de participar da reflexão ética de todos os juristas de boa vontade e de orientar aqueles que se sentem perdidos diante da complexidade do mundo jurídico, a associação reza também para que Espírito Divino esclareça os juízes e os advogados no exercício tão difícil de suas profissões.
Com efeito, administrar a justiça é um atributo realmente divino. Aliás, é o fundamento do poder público em todas as sociedades humanas, das mais primitivas até às mais organizadas e desenvolvidas. Ora, vivemos num mundo muito perigoso. Existem muitos motivos de guerra, e não somente por causa da loucura dos fundamentalistas e extremistas de todo tipo: terroristas muçulmanos, extremistas populistas, ditaduras, ideologias racistas cheios de ódio,…. Com efeito, existem também fatos indiscutíveis que geram situações objetivas de injustiça. Por exemplo, o crescimento exponencial da população no mundo ameaça gravemente os recursos naturais (quer energéticas, quer a água, quer os terrenos agrícolas) e os equilíbrios naturais por causa de uma poluição terrível do ar, do mar, da água e dos terrenos, a não ser que mudemos os nossos modelos econômicos. Devemos bem perceber que demorou-se do início da humanidade até o fim do século XIX para atingir um bilhão de seres humanos, enquanto que durante o só século, XX, atingiu-se sete bilhões de pessoas!
Ora, os pobres são as primeiras vítimas do estrago do planeta, pois os mais ricos sempre conseguem soluções, mesmo caras, para se nutrir de maneira equilibrada e suficiente, cultivar e enriquecer as terras empobrecidas e irrigá-las quando são secas, curar suas doenças resultantes da poluição, etc. … enquanto que os pobres devem mudar de lugar… ou morrer. Isso é verdade tanto para os indivíduos como para os países. Portanto, um dever urgente cabe à humanidade, e aos Cristãos em particular, de se colocar ao serviço dos direitos dos pobres por meio do desenvolvimento justo e sustentável, preservando o Planeta. Aliás, sem justiça não pode existir paz sustentável. Isso vale entre os particulares, dentro das famílias ou nos relacionamentos entre vizinhos, bem como entre os Estados e as instituições.
Numa época de grande injustiça social, quando os juízes eram também muito corruptos, enquanto santo Ivo de Kermartin pertencia às classes mais privilegiadas, ele escolheu trabalhar na área do direito, a fim de ministrar a justiça de uma maneira eficaz e correta. Mais ainda, mostrou o exemplo do altruísmo até ao despojamento total das riquezas em prol dos mais necessitados. Não se preocupar com as injustiças que existem no mundo de hoje levará a guerras e revoluções. O direito é a única alternativa à violência. Cabe aos profissionais do direito aplica-lo, na busca do bem comum e do interesse geral, com uma grande honestidade intelectual e sem parcialidade!
A reputação de equidade e honestidade de Ivo de Kermartin era tão famosa que se tornou um exemplo inspirador pelos juristas sinceramente preocupados em estabelecer a justiça para resolver os conflitos de maneira definitiva. Falava-se, a respeito dele: “Santo Ivo erat brito, advocatus et non latro, res miranda populo”. O que se traduz em português: “Santo Ivo era Bretão, advogado mas não ladrão: que coisa admirável que essa!!!” Com certeza, eis um exemplo muito inspirador para todos os profissionais da justiça: num mundo onde o lucro é muito atrativo, especialmente no mundo jurídico, restabeleceu a boa hierarquia dos valores…