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A era das policrises e o novo normal.

Por Julio Cesar Marcellino Jr. – Advogado e Professor.

Você tem percebido o quanto temos falado em crise? Crise climática, crise sanitária, crise migratória, crise econômica, crise bancária, crise cultural, crise energética, crise de segurança.

A sensação primeira é de caos e desordem global, numa perspectiva apocalíptica. Ficamos cada vez mais céticos em relação ao futuro, e o medo e a ansiedade tomam conta por nossa incapacidade de antever o que está por vir. Será o final da linha? Claro que não!

A história é feita de ciclos. Crises fazem parte da nossa vida desde sempre. Elas só mudam de feição a cada novo estágio da evolução humana. Os gregos na antiguidade já falavam em “Krisis” se referindo a momento decisivo, momento de perigo. Na era moderna, esse termo foi muito utilizado pela medicina no sentido de se referir ao momento crucial de risco de vida ou morte.

De qualquer modo, pelas experiências vividas, se intui que crises são momentos em que lidamos com riscos, com rupturas, com o imponderável. Nada mais humano do que isso. Toda a teoria do conhecimento já evoluiu bastante para nos mostrar que não somos (ainda) robotizados ao ponto de sermos totalmente previsíveis em nossas atitudes e muito menos capazes de evitar ou impedir, de modo absoluto, acontecimentos catastróficos.

De qualquer forma, penso que há algo de novo com o qual precisamos lidar: fenômenos disruptivos, seja no âmbito da natureza ou das relações humanas, tem ocorrido com cada vez mais potência e velocidade. Esse é um ponto de inflexão.

Diferentemente do passado, as crises têm se apresentado como sobrepostas, como um conjunto de riscos globais relacionados com efeitos combinados, agravando a perspectiva de impacto coletivo. Esta, inclusive, é a posição firmada pelo Fórum Econômico Mundial de 2023, por meio de seu Relatório de Riscos Globais.

Posição que, de algum modo, reconhece o conceito de “policrises” cunhado por Adam Tooze, historiador britânico da Universidade de Columbia que se notabilizou ao publicar um artigo em 2022 no Financial Times chamado “Welcome to the world of the polycrises”.

Tooze menciona Edgar Morin e Anne Kern quando se refere a origem da expressão policrise. Esses autores já defendiam, em 1999, que não seria possível identificarmos uma crise-eixo que subordinaria todas as outras. Não há um problema vital único, mas muitos problemas vitais simultâneos.

As crises sempre existiram, inclusive climáticas e sanitárias. O que mudou, em minha opinião, foi a amplitude de nossa percepção – potencializada pelas inovações tecnológicas. Com o imenso fluxo de informações e dados trazidos com instantaneidade pelas plataformas digitais e mídias sociais, tudo (ou quase tudo) que ocorre localmente repercute com alcance global e velocidade sem precedentes. Eis, enfim, o novo normal em mais uma etapa histórica na longa jornada do velho Homo Sapiens.

 

* Doutor em Direito Constitucional (UFSC/Universidade de Coimbra). Mestre em Direito
(UNIVALI/SC). Pós-graduado, em nível de especialização, em Direito Econômico (FGV/RJ). Foi Presidente da Junta Comercial de Santa Catarina e Procurador-Geral no Município de Florianópolis. Atualmente é Consultor Executivo na Secretaria de Estado da Fazenda de Santa Catarina e professor do Curso de Direito da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI; Advogado.

 

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