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Maria Teresa Vieira da Silva Oliveira

A (falta de) voz dos excluídos em “Vidas Secas” e “A hora da Estrela” e a ausência de direitos: pontos de convergência entre as duas narrativas

Por Maria Teresa Vieira da Silva Oliveira – Juíza do Trabalho – TRT 4ª Região – RS

Quando publicou “Vidas Secas”, em 1938, Graciliano Ramos, um militante de causas sociais, concluiu, pesaroso, que a arte se alimenta da miséria, ou da exploração dela. Tornou-se célebre a carta que ele escreveu para Candido Portinari (que, na mesma época, lançou a série de pinturas “Retirantes”) a esse respeito:

“Dizem que somos pessimistas e exibimos deformações; contudo as deformações e miséria existem fora da arte e são cultivadas pelos que nos censuram. O que às vezes pergunto a mim mesmo, com angústia, Portinari, é isto: se elas desaparecessem, poderíamos continuar a trabalhar? Desejamos realmente que elas desapareçam ou seremos também uns exploradores, tão perversos como os outros, quando expomos desgraças? (…) (GRACILIANO RAMOS, carta enviada a Cândido Portinari, https://revistagalileu.globo.com/Cultura/noticia/2017/05/graciliano-ramos-questiona-portinari-sobre-o-sentido-da-arte.html)

A seu turno, Clarice Lispector, que trouxe sua vivência pessoal, de imigrante pobre e excluída, à narrativa de “A hora da Estrela”, confessou, em entrevistas à época da publicação do livro, em 1977, pouco antes de falecer, que sentiu desconforto em explorar a condição precária da personagem principal quando ela própria já usufruía de boa posição social.

E o que esses dois clássicos gigantes da literatura nacional, que tanto balançaram seus autores, separados por quase quatro décadas, têm em comum?

Necessária breve digressão sobre as narrativas.

Ambas as obras têm por pano de fundo a diáspora de nordestinos de sua terra, bem como a inserção desses retirantes nos espaços urbanos do centro do Brasil, a partir da história de Fabiano, Sinhá Vitória, seus dois filhos e a cachorra Baleia, em Vidas Secas, e de Macabéa, em A Hora da Estrela.

Em VIDAS SECAS, acompanhamos a história de uma família nordestina perambulando pelo sertão em busca de sobrevivência.

O patriarca, Fabiano, é representado como um homem rude, um estereótipo do vaqueiro do sertão nordestino.

Vivia longe dos homens, só se dava bem com animais (…). Montado, confundia-se com o cavalo, grudava-se a ele”. Ainda: “Era bruto, sim senhor, nunca havia aprendido, não sabia explicar-se (…). Tinha culpa de ser bruto? Quem tinha culpa?”.

A esposa, Sinhá Vitória – cujo singelo sonho era ter uma cama de lastro de couro “igual à do Seu Tomás da bolandeira”- é descrita como uma mulher resignada, trabalhadora e mais capacitada que Fabiano, pois ainda conseguia fazer contas básicas e perceber que estavam sendo enganados pelo fazendeiro que os emprega (“Ele era bruto, sim senhor…mas a mulher tinha miolo”).

Os filhos – anônimos; identificados pelo narrador como “filho mais velho” e “filho mais novo”, acompanham os pais no êxodo, divertem-se como podem e sofrem com os humores dos pais – que não hesitam em aplicar-lhes cascudos e puxões de orelha sempre que perdiam a paciência com os injustos desígnios de suas vidas miseráveis. O mais novo se espelhava na figura do pai. Por sua vez, o mais velho, queria aprender mais e entender as palavras.

Baleia, a cadela, personagem riquíssima, ao contrário de seus donos – frequentemente identificados como “animais”–, sofre um processo de humanização ao longo da narrativa, notadamente na hora de sua morte.

Por fim, temos o papagaio (que só é retratado postumamente, uma vez que serve de alimento para a família logo no início da trama, quando nada lhes resta), que, diante do mutismo da família, nada falava, só latia (porque era o único som que ouvia).

A ignorância de Fabiano faz com ele seja enganado pelo fazendeiro para quem trabalha – que sempre dá um jeito de descontar dívidas inexistentes de sua remuneração, remanescendo quase nada a receber–, pelo Fiscal da Prefeitura (que tenta cobrar impostos indevidamente) e pelo “Soldado Amarelo”, que prende Fabiano sem qualquer justificativa legal.

E nesse enredo de fugir da seca, ser ludibriado pelo patrão e desamparado pelo Estado, Fabiano luta por apenas sobreviver junto à sua família.

Ao fim da história, a família retoma sua eterna errância no escopo de fugir da seca e sonha com o dia em que uma vida nova se esboçasse: “Acomodar-se-iam num sítio pequeno, o que parecia difícil a Fabiano, criado solto no mato. Cultivariam um pedaço de terra. Mudar-se-iam depois para uma cidade, e os meninos frequentariam escolas, seriam diferentes deles”.

A seu turno, A HORA DA ESTRELA traz o retrato pungente da jovem alagoana Macabéa, também imigrante, que vive (sobrevive?) no Rio de Janeiro (uma cidade toda feita contra ela”), trazida que foi ainda na infância, por uma tia, após a morte de seus pais.

O narrador,  Rodrigo S. M. (alter ego da escritora), descreve Macabéa como: “(…) é tão tola que às vezes sorri para os outros na rua. Ninguém lhe responde ao sorriso porque nem ao menos a olham”.

Ou: “(…) ela vive num limbo impessoal, sem alcançar o pior nem melhor. Ela somente vive, inspirando e expirando, inspirando e expirando”.

Conquanto tenha estudado até o 3º ano do Ensino Fundamental, mal sabendo escrever, Macabéa se torna datilógrafa e consegue um emprego. Não sabe o significado das palavras (apaixona-se pela palavra “efemérides”), mas datilografa letra por letra para poder cumprir seu ofício.

A personagem leva uma vida simples, trabalha o dia todo e à noite escuta a Rádio Relógio, cuja programação consistia em informar a hora certa, ofertar cultura inútil (“a mosca voa tão depressa que se voasse em linha reta ia passar pelo mundo todo em 28 dias”) e transmitir anúncios comerciais.

Alimenta-se basicamente de cachorro quente e café frio, além de comer pedacinhos de papel para enganar a fome.

Apesar de tantos pesares, Macabéa não é infeliz, pois, segundo o narrador, “(…) essa moça não sabia que ela era o que era, assim como um cachorro não sabe que é cachorro (…)”, sendo que “(…) não tinha consciência de si e não reclamava nada, até pensava que era feliz. Não se tratava de uma idiota, mas tinha a felicidade pura dos idiotas”.

Macabéa é subserviente em suas relações com o mundo. Quando o chefe resolve despedi-la ela pede “desculpas pelo aborrecimento causado”; quando o namorado Olímpico, um imigrante nordestino mau-caráter, que furtava dos colegas e tinha o sonho de ser deputado (ao final, concretizado), a destratava, ela pedia desculpas e quando ele rompeu o relacionamento (para ficar com sua amiga), ela teve um acesso de riso.

Ao final, após consultar uma cartomante que garante que a partir daquele dia sua vida iria começar, uma vez que iria encontrar um grande amor (“Hans”) e se tornar uma mulher rica, Macabéa atravessa a rua sem olhar e é atropelada por um Mercedes amarelo “enorme como um transatlântico”.

Caída no passeio público e sangrando, seu fim é testemunhado por diversos passantes, que se aglomeram em torno dela, sem prestar socorro.

Por fim, Macabéa fica “inerme no canto da rua”, vendo “entre as pedras do esgoto o ralo capim de um verde da mais tenra esperança humana”. E pensa: “Hoje é o primeiro dia de minha vida: nasci”. E morre. Havia chegado a hora da estrela.

O ponto de convergência entre as duas narrativas é efetivamente a condição de desumanização que os personagens enfrentam em virtude do abandono do Estado, da opressão do poder institucional e da condição de não pertencimento social.

A vida de Fabiano e sua família é seca não somente em virtude da nefasta condição climática, mas em razão da miséria imposta pela exploração de sua ignorância pelos ricos proprietários de terras da região e pelo Governo, representado pelo Fiscal da Prefeitura e pelo Soldado Amarelo.

Outrossim, a família padece da secura das palavras. Não havendo estudado, não sabem se expressar. E tão-somente por não saber se expressar, Fabiano acaba preso. Ao tentar questionar o soldado acerca da motivação de sua prisão, Fabiano limita-se a reproduzir as palavras que escutava de Seu Tomás da bolandeira, personagem que, na cabeça de Fabiano, representava a erudição. Assim, abre a boca e diz: “Isto é. Vamos e não vamos. Quer dizer. Enfim, contanto, etc. É conforme”.

Ou seja, não diz nada. E é levado preso.

Servil, aceitou timidamente a prisão, “(…) levantou-se e caminhou atrás do amarelo, que era autoridade e mandava. Fabiano sempre havia obedecido. Tinha muque e substância, mas pensava pouco, desejava pouco e obedecia”. Fabiano reputava que “apanhar do Governo não é desfeita (…)”.

Também Macabéa “é doce e obediente”, chegando a arrancar a pergunta ao narrador: “Por que ela não reage? Cadê um pouco de fibra?”.

E a frase que bem poderia ter sido escrita por Graciliano Ramos, mas integrou A hora da Estrela, ilustra com maestria o sentimento de conformismo e resignação do retirante nordestino: “O sertanejo é antes de tudo um paciente”.

Por não ter frequentado a escola, Fabiano chega a ver a si próprio como um animal. Por sua vez, por ter estudado pouco, Macabéa sente que deve aceitar com passividade tudo aquilo que as pessoas lhe dizem, inclusive as ofensas, que, a propósito, ela sequer percebe.

Em dado momento, ela vê um livro que seu patrão está lendo, cujo título é “Humilhados e Ofendidos” e conclui que: “(…) na verdade ninguém jamais a ofendera, tudo que acontecia era porque as coisas são assim mesmo e não havia luta possível, para que lutar?”.

Ambos os personagens são resignados a aceitar aquilo que entendem por destino, seja em razão do léxico quase nulo, no caso de Fabiano, seja pela incapacidade de pensar em si mesma como um ser humano, caso de Macabéa.

Em dado momento, Macabéa pede desculpas ao namorado Olímpico dizendo: Desculpe, mas acho que não sou muito gente”; ao que ele redargui: “Mas todo mundo é gente, meu Deus!”. E ela: “É que não me habituei”.

Macabéa não se habituou a ser gente.

Fabiano não sabe se exprimir, e, por isso, se enxerga como um bicho.

Assim, seja por causa da ignorância no falar, como Fabiano, seja por causa da incapacidade de se perceber como gente, como Macabéa, os personagens se conformam em simplesmente existir.

Macabéa “não fazia perguntas. Adivinhava-se que não há respostas. Era lá tola de perguntar? E de receber “um não” na cara?”.

Quanto ao futuro, ela estava convencida: “ter futuro era luxo”.

No que atenta às palavras, Fabiano, ao mesmo tempo em que admira as pessoas que têm seu dom, se incomoda ao ver que seus filhos querem aprender.

Em determinado trecho do livro, ele reputa que seus filhos “(…) estavam perguntadores, insuportáveis”.

O narrador explica: “Fabiano dava-se bem com a ignorância. Tinha o direito de saber? Tinha? Não tinha. Está aí. Se aprendesse qualquer coisa, necessitaria aprender mais, e nunca ficaria satisfeito”.

Um belo dia, o menino mais velho ouviu a palavra “inferno” e ficou intrigado com seu significado. Questionou sua mãe. Ela desconversou. Indagou seu pai, mas ele o ignorou. Voltou a questionar sua mãe, que, braba com a insistência, lhe dá um cascudo. Sem ninguém para saciar sua vontade de saber, busca consolo na cadela Baleia.

Uma cena emblemática é quando a família vai à cidade acompanhar a festa de natal.

Os meninos ficam espantados ao ver a cidade, as casas, lojas, barracas, a igreja e sua reação foi de confabular:

Provavelmente aquelas coisas tinham nomes (…). Sim, com certeza as preciosidades que se exibiam nos altares da igreja e nas prateleiras das lojas tinham nomes (…). Como podiam os homens guardar tantas palavras? Era impossível, ninguém conservava tão grande soma de conhecimentos. Livres dos nomes, as coisas ficavam distantes, misteriosas”.

Do mesmo modo, Macabéa padece da incapacidade de se manifestar. Mas queria aprender. Por isso ouvia a Rádio Relógio e seu conteúdo inútil a seduzia. Perguntava ao namorado Olímpico se ele sabia o que era cultura, o que era eletrônico, o que era renda per capita e ele, não sabendo, a xingava.

A correlação entre o mutismo em Vidas Secas e A Hora da Estrela não passou despercebida pela Professora Ivana Ferrante Rebello, que assim asseverou:

“Tais considerações levam-me de imediato ao romance Vidas secas, de Graciliano Ramos, em que a noção de falta e de carência que permeia a vida da família de Fabiano estende-se à linguagem (ou à falta dela, em alguns momentos cruciais da história), o que provoca no leitor não apenas a consciência sobre o drama da seca e de seus protagonistas mas a percepção sensorial e emotiva dessa realidade. Com A hora da estrela ocorre algo semelhante: a falta existe para preencher; tirar é proporcional ao fazer o texto explodir de sentidos” (in “Sobre restaurar fios: reflexões sobre a pobreza em A hora da estrela”, Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, Brasília, versão on line, nº 41, jan./jun. 2013).

A aridez dos personagens e de seu entorno pauta sua trajetória existencial pelo isolamento e hermetismo, negando-lhes a dignidade humana, prerrogativa que deveria se impor como inafastável a toda e qualquer pessoa.

Em ambos os textos, a literatura atua como instrumento de denúncia da miséria e do abandono social.

Fabiano, sua família, Macabéa e Olímpico, são todos nordestinos, “bichos da mesma espécie que se farejam”, conforme pontua Clarice Lispector, e sofrem, de distintas formas, a violência de uma existência invisível, que exclui e os empurra para fora dos contornos da sociedade.

Na narrativa, repito, Fabiano é “bicho” (“Você é um bicho, Fabiano”, em fala do próprio Fabiano); Macabéa é “capim” (ela era subterrânea e nunca tinha tido floração. Minto: ela era capim”).

E o Direito, onde fica nisso tudo?

E mais: será que o Direito, assim como a arte em geral, como alertaram Graciliano Ramos e Cândido Portinari, também se alimenta da miséria?

Nas obras em comento, temos um exemplo claro do tratamento que o Direito e o Estado dispensam às minorias.

Encontramos na narrativa de Clarice Lispector, além de profunda análise sobre exclusão social, existencialismo e ausência de percepção da personagem acerca de sua condição de titular de direitos, um acurado exame sobre a posição da mulher na sociedade da época.

Ainda que os direitos das mulheres estivessem em franca evolução nos anos 70 e já mostrassem importante avanço, e conquanto Macabéa tivesse um emprego e uma moradia, se submetia à violência moral perpetrada pelo namorado Olímpico, quer por intermédio de recorrentes ofensas, quer por meio de ridicularizações.

E nesse momento, uma indagação se impõe. Oitenta e dois anos após Vidas Secas e quarenta e três anos após A hora da estrela, e, ademais, após substanciais transformações no ordenamento jurídico internacional (a Declaração Universal de Direitos Humanos de 1945, as diversas Convenções e Tratados Internacionais que tratam de direitos humanos, direitos das mulheres, direito ao trabalho digno, direito à infância e à juventude sadias, etc), bem como na ordem jurídica brasileira (como a Constituição Cidadã de 1988, a Lei Maria da Penha, o Estatuto da Criança e do Adolescente, por exemplo), algo, DE FATO, MUDOU em nossa sociedade?

Em outras palavras, podemos falar em relevantes transformações sociais desde então?

Ou em materialidade desse belo arcabouço jurídico na vida real?

A Declaração Universal dos Direitos Humanos assenta em seu artigo 1º que “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade”.

Nossa matriz principiológica, que contempla o princípio da dignidade humana, sedimentado no inciso III do artigo 1º e no inciso II do artigo 4º da Carta Magna, está sendo cumprida?

E os direitos fundamentais da personalidade, tratados na Carta Magna e no Código Civil, tanto aqueles classificados pela doutrina como de 1ª, 2ª, 3ª, 4ª e agora até de 5ª dimensões (direito à vida, à liberdade, à saúde, à educação, à fraternidade, à solidariedade, à democracia, à paz, etc) estão sendo implementados e respeitados pelo Estado?

Tais indagações merecem ampla reflexão sociológica, finalidade a que não se presta o presente e desinteressado artigo.

Insta ressaltar, contudo, que ainda nos deparamos com uma legião enorme de retirantes nordestinos vagando pelo país em busca de melhores oportunidades.

Uma massa maior ainda de analfabetos funcionais grassa no Brasil.

A Justiça do Trabalho está ai para mostrar que ainda enfrentamos o fantasma do trabalho escravo, do trabalho infantil, da precarização das relações laborais, do racismo e da desigualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho.

Também encontramos cidadãos presos injustamente, fruto de abuso de autoridade dos “soldados amarelos” contemporâneos e diuturnamente acompanhamos notícias de mulheres agredidas e até mortas por seus companheiros, e isso independentemente de classe socioeconômica, cor e escolaridade.

Na “Dedicatória do autor”, Clarice Lispector adverte: “Esta história acontece em estado de emergência e de calamidade pública. Trata-se de livro inacabado porque lhe falta resposta. Resposta esta que alguém no mundo ma dê. Vós?

Ainda não temos a resposta, Clarice.

Os livros em comento permanecem de uma atualidade assombrosa e triste.

Como bem pontuou Ítalo Calvino, “um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer”.

As vidas continuam secas. E as estrelas continuam se apagando precocemente sem ter conseguido “acender a luz da vida”.

Conclui-se, portanto, que tantos anos após, Fabianos e Macabéas continuam sendo explorados. Permanecem gritando e vivendo “(…) numa sociedade técnica onde [são] um parafuso dispensável”, como alertava Clarice Lispector.

Há que se olhar para esses excluídos. Olhar não. Há que se ENXERGÁ-LOS, ou, mais profundamente ainda, há que se REPARAR nos marginalizados, dando ênfase à célebre lição de José Saramago, em Ensaio sobre a Cegueira: “Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara”.

Mais do que isso, há que se conceder voz a eles, para que possam ter um futuro, porque, diversamente do que Macabéa apregoa, um futuro não é um luxo, um futuro é um direito de todos.

“Porque há o direito ao grito. Então eu grito. Grito puro e sem pedir esmola” (Clarice Lispector).

GRACILIANO RAMOS – “Escritor, jornalista e preso político, é considerado o mais importante prosador da Geração de 30. Nascido em 27 de outubro de 1892 na cidade de Quebrângulo, no Alagoas, foi o primogênito de quinze filhos de uma família de classe média. Residiam no sertão nordestino e por conta dessa vivência, Graciliano produziu obras que abordavam os problemas sociais do nordeste, trazendo uma visão crítica das relações humanas.

Concluiu os estudos secundários em Maceió e não cursou ensino superior.

Em 1914 mudou-se para o Rio de Janeiro e começou a trabalhar como revisor dos jornais “Correio da Manhã” e “A Tarde”. Depois de um tempo retorna para Palmeira dos Índios e trabalha como comerciante e jornalista local.

Em 1927 foi eleito prefeito da cidade e assumiu o cargo em 1928. Em 1932 renuncia à prefeitura e muda-se para Maceió, onde é nomeado diretor da Imprensa Oficial e da Instrução Pública do Estado. Colabora com jornais usando o pseudônimo de Lúcio Guedes.

Demite-se do cargo de diretor da Imprensa Oficial e volta para Palmeira dos Índios, onde funda uma escola no interior da sacristia da igreja Matriz e inicia os primeiros capítulos do romance “São Bernardo”.

Graciliano Ramos faz sua estreia na literatura em 1933, com o romance “Caetés“. Na sequência publica o romance “São Bernardo” em 1934 e “Angústia” em 1936. Nesse ano, o escritor foi preso pela acusação de participação no movimento de esquerda.

Após percorrer vários presídios e sofrer situações dolorosas, foi libertado em janeiro de 1937. Essas experiências transformaram-se em conteúdo para os relatos do livro “Memórias do Cárcere”.

Após essa publicação veio o romance “Vidas secas“, escrito em 1938 e considerado como sua obra mais importante.

Nesse período, Graciliano Ramos fixa residência no Rio de Janeiro e ocupa o cargo de Inspetor Federal de Ensino. Em 1945 ingressou no Partido Comunista Brasileiro.

Em 1951 foi eleito presidente da Associação Brasileira de Escritores. Em 1952 viajou para os países socialistas do Leste Europeu, experiência relatada na obra “Viagem”, publicada em 1954, após sua morte.

Graciliano Ramos morreu no Rio de Janeiro no dia 20 de março de 1953. Seus livros foram traduzidos para vários idiomas e alguns de seus trabalhos, como “Vidas Secas”, “São Bernardo” e “Memórias do Cárcere”, foram adaptados para o cinema. Recebeu o Prêmio da Fundação William Faulkner, dos Estados Unidos, pela obra “Vidas Secas”. Algumas de suas obras são Caetés (1933), São Bernardo (1934), Angústia (1936), Vidas Secas (1938), A Terra dos Meninos Pelados (1942), História de Alexandre (1944), Histórias Incompletas (1946), Memórias do Cárcere (1953) e Viventes das Alagoas (1962), dentre outras” (Biografia extraída do sítio brasilescola.uol.com.br). Em tempo: Nunca foi indicado para a Academia Brasileira de Letras – ABL.

CLARICE LISPECTOR – “Nascida na Ucrânia e naturalizada brasileira, Chaya Pinkhasovna Lispector é reconhecida como uma das mais importantes escritoras do século XX. Escreveu romancescontos e ensaios e também atuou como jornalista.

Nasceu em 10 de dezembro de 1920 em Chechelnyk, na Ucrânia. Sua família tinha origem judaica e emigraram para o Brasil em março de 1922, fixando-se na cidade de Maceió, Alagoas. Por iniciativa de seu pai, todos da família mudam de nome e Chaya então passou a se chamar Clarice.

Em 1925, a família muda-se para a cidade do Recife.

Clarice cresceu ouvindo iídiche, o idioma dos seus pais. Também estudou inglês, francês e aprendeu a ler e escrever com muita facilidade.

Com nove anos ficou órfã de mãe e em 1931 ingressou no Ginásio Pernambucano, considerado na época o melhor colégio público da cidade.

Em 1937 sua família muda-se para o Rio de Janeiro, no Bairro da Tijuca. Ingressou no Colégio Sílvio Leite e se tornou frequentadora assídua da biblioteca. Cursando Direito, com apenas 19 anos publicou “Triunfo”, seu primeiro conto; no semanário “Pan”.

Em 1943, formou-se em Direito e casou-se com o amigo de turma Maury Gurgel Valente. No mesmo ano, estreia na carreira literária com o romance “Perto do Coração Selvagem“. A obra agradou a crítica e conquistou o Prêmio Graça Aranha.

O marido de Clarice era diplomata do Ministério das Relações Exteriores e ela o acompanhava nas constantes viagens. Assim conheceu Itália, Inglaterra, Estados Unidos e Suíça. Em 1959, Clarice se separa do marido e retorna ao Rio de Janeiro.

Começou a trabalhar no Jornal “Correio da Manhã”, escrevendo a coluna Correio Feminino. Em 1960 trabalhou no Diário da Noite, sendo responsável pela coluna Só Para Mulheres e também lançou “Laços de Família”, um livro de contos que recebeu o Prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro.

Em 1961 publicou “A Maçã no Escuro“, conquistando o prêmio de melhor livro do ano em 1962.

Em 1967 publicou crônicas no “Jornal do Brasil” e lançou “O Mistério do Coelho Pensante”. Tornou-se integrante do Conselho Consultivo do Instituto Nacional do Livro.

Em 1969 recebeu o prêmio do X Concurso Literário Nacional de Brasília.

Em 1977 lançou “A Hora da Estrela”, o seu último romance publicado em vida. A obra ganhou adaptação audiovisual e foi premiada no festival de cinema de Brasília em 1985. No ano seguinte, conquistou o Urso de Prata em Berlim.

Clarice Lispector morreu no Rio de Janeiro, no dia 9 de dezembro de 1977. Seu sepultamento foi realizado no cemitério Israelita do Caju, zona norte da cidade. Algumas obras são: Perto do Coração Selvagem (1944), O Lustre (1946), A Cidade Sitiada (1949), Alguns Contos (1952), Laços de Família (1960), A Maçã no Escuro (1961), A Legião Estrangeira (1964), A Mulher Que Matou os Peixes (1969), Água Viva (1973), A Vida Íntima de Laura (1974) e A Hora da Estrela (1977), dentre outros” (Biografia extraída do sítio infoescola.com). Em tempo: Também nunca foi indicada para a Academia Brasileira de Letras – ABL.

 

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