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A educação como ferramenta de combate à violência doméstica.

Por Tammy Fortunato – Membro efetivo do IASC.

A educação sempre foi vista como um caminho a ser seguido para a evolução humana. É a base para a construção de uma vida social saudável e digna. É por meio da educação que se desenvolve o comportamento das pessoas, da relação destas com o meio ambiente social em que se vive. É por meio da educação que se aprende o que é respeito e a formar a personalidade do indivíduo.

Como diz o velho ditado, “educação vem de casa”. Tanto vem de casa que é passada de geração em geração, criando hábitos e costumes, não só nos lares, mas também em toda uma sociedade.

Em tempos primórdios, no desenvolver da nossa sociedade, não existia o conceito fático de educação, mas ela existia. Os filhos espelhavam-se nos pais e repetiam suas atitudes com o intuito de aprender a conviver de modo harmonioso nos bandos e/ou nas comunidades que em que viviam. Os pais não sabiam como ensinar os filhos, mas os filhos sabiam como aprender: pela observação.

Muitas vezes somos observados (mesmo que discretamente) e copiados em nosso comportamento e atitudes, sejam em práticas boas ou ruins. Como dizem: “a palavra convence, mas o exemplo arrasta”.

Para vivermos em sociedade, é preciso ter educação, ter disciplina. Uma coisa que poucas vezes é ensinada em casa é o respeito pela mulher, muito provavelmente porque foi transmitido entre gerações a ideia da mulher ser percebida como um objeto, uma propriedade dos pais, maridos e até mesmo dos filhos homens.

A prática da violência doméstica é um exemplo da aprendizagem pela observação. Homens autores de violência tendem a repetir as atitudes paternas. Cresceram observando o tratamento que era dado às suas mães ou mulheres que na casa viviam. Tratamentos estes que veem a mulher como uma propriedade, como alguém em que você pode bater, xingar e humilhar.

É preciso mudar a educação presente dentro dos lares, é preciso mudar a educação das famílias e, principalmente, mudar o tratamento dispensado às mulheres. É preciso que haja exemplos corretos no trato com as mulheres.

Vivemos uma época em que buscamos a igualdade, já não admitimos mais tratamentos desiguais entre homens e mulheres. Não admitimos que mulheres sejam agredidas e mortas por seus parceiros. Mas, como mudar o pensamento machista arraigado inclusive nas falas femininas?

Quem nunca ouviu uma mulher ao saber que outra havia sido agredida fisicamente pelo ex ou atual companheiro perguntar o que ela havia feito para apanhar? Ou, fulana apanhou? Merecia, era folgada!

Ainda hoje, muitas mulheres utilizam não só a fala, mas o comportamento machista, em seu meio ambiente social, incluindo o lar e trabalho.

É preciso mudar o comportamento /pensamento machista adotado por homens e mulheres, e a educação é o primeiro passo para isso. Quando se fala em educação, devemos lembrar que sempre em primeiro lugar ela vem de casa, da nossa cultura, do nosso ambiente.

A educação vem do exemplo, e nossas atitudes devem ser mais fortes do que as palavras. É preciso pensar em educação para toda uma sociedade, e não somente no foco individual. A educação é feita por nós e para todos nós.

Devemos começar a mudar e a dar bons exemplos para nossos filhos dentro dos nossos lares principalmente no trato com as mulheres. Boas relações familiares criam adultos saudáveis, e como consequência, uma sociedade menos machista.

É preciso mudar as atitudes e comportamentos de quem discrimina e desvaloriza o feminino, que acham que as mulheres são seres fracos e inferiores aos homens. A violência contra a mulher decorre da tentativa de submissão do masculino sobre o feminino, e isso precisa ser combatido.

O combate à discriminação deve começar dentro dos lares, pelas mulheres, pelas mães. Por incrível que isso possa parecer, um grande número de mulheres são machistas e são essas mulheres que educam seus filhos.

Discursos machistas criam filhos homens machistas e filhas mulheres submissas, certamente porque no lar materno já havia este tipo de educação. Havendo tão somente a reprodução dos atos.

Deve haver maior sororidade entre as mulheres, que são as primeiras a julgarem os atos, falas e roupas de outra. É lamentável que uma mulher ache certo que outra seja estuprada em virtude da roupa que usava; que ache certo a violência física sofrida por não ter concordado com o marido, e por aí vai.

A mudança na educação das famílias no combate à violência doméstica deve ser de todos, homens e mulheres, buscando sempre a igualdade de deveres e direitos, porém, observando-se as diferenças.

A violência doméstica saiu do interior dos lares, e virou problema de saúde pública, cabendo o seu combate a todos. Deixou de ser um problema privado, passando a ser um problema público, cabendo aos governantes adotarem políticas públicas para combatê-la.

Além das políticas públicas, cabem às escolas a difícil missão de combater a violência doméstica. Ajudar na educação básica social quando os lares não são sadios, o que ocorre em grande maioria, independente da classe social. A educação que deveria vir de casa, não vem.

A escola deve inserir em suas temáticas o assunto violência contra a mulher, o que é e como combatê-la. Não há o vislumbre da erradicação da violência contra a mulher, e principalmente, da violência doméstica, sem o auxílio da escola.

Infelizmente o Brasil é um dos líderes no ranking mundial de violência contra a mulher, ocupando o quinto lugar, e mais triste ainda, sendo o primeiro colocado na América Latina. Não há outro meio capaz de deter essa pandemia, senão pela educação.

 

*Tammy Fortunato, advogada inscrita na OAB/SC sob o nº 17.987, e Presidente da Comissão de Combate à Violência Doméstica do Instituto dos Advogados de Santa Catarina – IASC.

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