O conflito Irã-Israel: implicações políticas e econômicas.
Por Julio Cesar Marcellino Jr.* Membro Efetivo do IASC.
Israel lança uma série de ataques a pontos estratégicos do Irã, impondo danos e prejuízos expressivos ao governo do aiatoláAli khamenei. Líderes da guarda iraniana e cientistas que atuavam no programa nuclear foram eliminados. O Irã contra-ataca utilizando drones e mísseis balísticos. Há grande apreensão em relação ao que pode acontecer, tanto do ponto de vista político quanto econômico. A troca e a intensidade dos ataques aumenta a cada dia e as consequências são incalculáveis no momento.
Inicialmente, importante compreender por que Israel atacou oIrã. Pode parecer um movimento bélico isolado, mas não é. Esse ataque faz parte de um contexto mais amplo. Desde a agressão cometida pelo Hamas aos israelenses em 7 de outubro de 2023, com o assassinato de mais de mil pessoas e sequestro de outras duzentos e cinquenta, o Oriente Médio não foi mais o mesmo. Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro israelense, declarou guerra ao Hamas e a todos aqueles que de algum modo apoiam ou financiam o movimento.
Vale lembrar que nem sempre Irã e Israel estiveram em lados opostos. Durante o período dos “Xás” (como eram chamados os monarcas autocráticos pró-ocidente), o Irã reconhecia aexistência do Estado de Israel e até mesmo colaborava em várias frentes, por entender que havia um alinhamento anticomunista. Mas tudo mudou em 1979, com a revolução político-religiosa que transformou o Irã em uma república teocrática.
A partir do novo regime iraniano, o Estado de Israel passa a ser considerado como inimigo que ameaça a unidade do mundo islâmico no Oriente Médio. O Irã assume o papel de líder anti-Israel e passa a defender sua destruição por entender como ilegítima e afrontosa a ocupação territorial oficializada a partir de 1948. Entre suas estratégias, está o apoio militar e financiamento a grupos extremistas como Hamas e Hezbolhahque atuam na Palestina e no Líbano, respectivamente.
O duro golpe que Israel desferiu ao Irã foi pensado a partir de um plano estratégico que envolveu ataques precedentes aos grupos extremistas. Líderes desses movimentos foram sendo eliminados gradativamente, obstruindo a linha de comando e enfraquecendo-os internamente. Muitas vezes esses movimentos foram feitos a partir da inteligência militar israelense sem incursões bélicas de grandes proporções.
Exemplo disso foi o episódio dos pagers (dispositivos de comunicação) adquiridos pelo Hezbollah e que foram, por interferência da inteligência israelense, explodidos durante ouso por integrantes do grupo. O governo de Israel informou que mais de mil integrantes foram feridos ou eliminados durante o ataque. Outro exemplo de atuação estratégica israelense foi a destruição da força aérea síria, prevenindo qualquer futuro possível ataque vindo da região Norte.
Desse modo, com os parceiros destruídos ou muito enfraquecidos, o Irã ficou isolado e, até certo ponto,fragilizado. Como o programa nuclear iraniano sempre se apresentou como uma ameaça à existência do Estado de Israel, este decidiu atacar. Porém, tudo indica que essa não é a única intenção por trás dos movimentos dos israelenses. De acordo com as declarações de Netanyahu, o que parece é que Israel pretende derrubar o regime teocrático iraniano.
Quando se fala nos reflexos para a economia, a apreensão também é grande. O Irã é o terceiro produtor de petróleo do Oriente Médio, ficando atrás apenas da Arábia Saudita e Iraque. Produz algo em torno de 3,5 milhões de barris por dia, representando aproximadamente 5% de toda a produção mundial. Apesar de todos os embargos comerciais, o Irã é fornecedor de grandes volumes para a China e Índia e controla o estreito de Hormuz, uma passagem marítima que conecta o Golfo de Pérsico ao Golfo de Omã e ao Mar Arábico. Por essa rota marítima passa algo em torno a 20% de toda a produção mundial de petróleo.
Já há um impacto direto no mercado por conta do início do conflito entre Israel e Irã. O receio é de que, com a escalada dos ataques e até mesmo o envolvimento dos Estados Unidos e países aliados, ocorra a disparada no preço do petróleo. A alta da commodity certamente teria impacto na comercialização de combustíveis e derivados e acarretaria no descontrole da inflação no mundo.
É preocupante testemunhar mais um conflito armado de grandes proporções no mundo. Não há uma instância mediadora que possa tentar arrefecer os ânimos em busca de consensos. A ONU (Organização das Nações Unidas) está enfraquecida e perdeu sua autoridade. Na relação direta e de fricção entre as potências mundiais há um grande risco de escalada de violência em meio às disputas comerciais eterritoriais.
Desde 2016, com o movimento do Brexit no Reino Unido e a eleição de Donald Trump para o seu primeiro mandato na presidência dos Estados Unidos, percebe-se um reposicionamento no tabuleiro da geopolítica. O acirramento na disputa política e econômica entre as potências só cresce.Um cenário que exige cuidado e prudência da parte dos líderes mundiais.
* Doutor em Direito, professor e advogado.